sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A Geografia do Prazer



LAMENTO


Que metáfora, como onda solitária, varre o arealda madrugada, mesmo antes de as primeiras pegadas anunciarem as viagens para sul? 

Que onda solitária, como metáfora, varre o areal da memória, mesmo antes de as viagens para sul anunciarem as primeiras pegadas? 

Tristes lamentações estas de fim de Verão, quando as viagens já são sem retorno e não deixam na areia da vazante rasto que nos possa ensinar o caminho de regresso a casa!

Assim, mais vale rumar a norte e esperar que os ventos propícios nos refresquem os olhos, enquanto as águas mais frias nos avivam a memória de tudo o que ainda há para fazer: seja adormecer ao som da lua nova, à beira-mar, seja acordar ao som dos primeiros raios de sol, à beira das fontes que alimentam o rio, como se alimentassem a vida. 

Vamos, pois, lavar as mãos nesta corrente fria que nos atravessa a garganta e, com elas ainda húmidas, escrever no areal da memória a metáfora solitária da despedida.


  Augusto Mota, texto 82 de «A Geografia do Prazer», 1999 


  

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