domingo, 15 de setembro de 2013

A Geografia do Prazer

 
 
ALITERAÇÃO
 
Secretos segredos são suavemente segredados no sagrado e simbólico silêncio das sílabas sucessiva e sistematicamente soletradas como sustentáculo da supremacia dos sons supostamente sinónimos do supracitado simbolismo do silêncio. Semelhante sinonímia sintetisa a sinuosidade do sistema semiológico singularmente simplista subjacente à supérflua sinalética que supostamente sacraliza um sensacionalismo seguidista  e sentencioso sem o sagaz sexto sentido servo da sensibilidade serena e sincera subentendida nos secretos significados subterraneamente substituídos por sinais singulares e simplificados mas simétricos de situações substantivas saboreadas no sagrado silêncio das palavras.
 
Que secreta repetição invadiu a planície do sonho onde germinam as palavras? Que rigor é este que só rega a raiz das palavras que se alinham nos regos por onde andaram as mãos das mondadeiras? Assim, estiolam as ideias na terra seca e gretada dos campos ensolarados! Assim, as palavras verdes e tenras murcham a meio da tarde, mesmo antes da pausa para a merenda! Talvez o pão e o vinho consigam novo ânimo para os sentidos das sílabas criadas entre a infância e a memória. Talvez o cheiro da fruta perfumando um quarto de dormir nos faça sonhar sobre a areia macia da praia, mesmo que tarde a maré-cheia dos sentimentos que guardámos para, um dia, lançar ao vento suão como se fossem papagaios coloridos presos ao fio invisível da pré-história das recordações.
 
Sagrada fruta a que se guarda no silêncio de um quarto onde dormem os perfumes secretos que simbolicamente invadem as mãos e os olhos! Não sabemos que supremacia é esta que as palavras subitamente nos impuseram. Nem sabemos o que louvar mais, se a gramática, se os olhos que acariciam os gestos e prolongam o sonho e o tempo!
 
E a dor? A dor alimenta o sonho e, como um rio tempestuoso, avassala as mãos que tremem e já não desenham o significante das palavras que, assim, se vão acumulando em traços sem significado, enquanto o olhar vagueia, tímido, pelos caminhos incertos do tempo.
 
Só o sonho segura as mãos trémulas para, com firmeza, lavrar os regos na planície onde germinará, sem ervas daninhas, a sementeira de todas as palavras que, no silêncio do olhar, havemos de segredar ao futuro.
 
Augusto Mota, texto 72 de «A Geografia do Prazer», 1999
 

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