quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A Geografia do Prazer




NA PERIFERIA DO ESQUECIMENTO


Quantas palavras se escondem por detrás de um gesto? E que olhares se escondem por detrás de uma palavra que navega na periferia do esquecimento? Será necessário, por certo, inventar uma nova semântica que ritualize o esforço dos gestos e dê ao corpo uma dimensão tão sublime como se alguém o estivesse a esculpir no mármore mais precioso, fazendo de seus veios as veias onde pulsam os mistérios da vida.

Algumas palavras também esculpem, em sua secreta significação, o corpo frágil da memória para, depois, se arrastarem pelos veios frios da pedra num delírio febril que vai deixando os sentidos ora ausentes, ora exangues.

O escultor, então, confunde-se com a própria obra esculpida e cada silêncio é a força decidida e precisa do cinzel a desbastar a matéria e a vida.


Augusto Mota, texto 91 de «A Geografia do Prazer», 1999

- Exaltação do corpo em viagem pelos continentes da memória. 

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