NA PERIFERIA DO ESQUECIMENTO
Quantas palavras se escondem por detrás de
um gesto? E que olhares se escondem por detrás de uma palavra que navega na
periferia do esquecimento? Será necessário, por certo, inventar uma nova
semântica que ritualize o esforço dos gestos e dê ao corpo uma dimensão tão
sublime como se alguém o estivesse a esculpir no mármore mais precioso, fazendo
de seus veios as veias onde pulsam os mistérios da vida.
Algumas palavras também esculpem, em sua
secreta significação, o corpo frágil da memória para, depois, se arrastarem
pelos veios frios da pedra num delírio febril que vai deixando os sentidos ora
ausentes, ora exangues.O escultor, então, confunde-se com a própria obra esculpida e cada silêncio é a força decidida e precisa do cinzel a desbastar a matéria e a vida.
Augusto Mota, texto 91 de «A Geografia do Prazer», 1999
- Exaltação do corpo em viagem pelos continentes da memória.
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