AS ESTRELAS-DO-MAR
Que mares e que marés inundam as praias do
nosso viver? São os braços que, cansados, se esforçam por nadar por entre as
vagas de uma melodia celta a caminho da harpa das ilusões. São os dedos que,
cansados, iludem o timbre das cordas num desenho novo dos sons. São os olhos
que, cansados, já não lêem a partitura escrita nas pautas do vento. São os pés
que, cansados, já não percorrem os trajectos do corpo.
Ouvimos, agora, os sons do vento leste
como se uma harpa imitasse os longos e prolongados murmúrios das marés em noite
de lua nova. E esperamos que o auge da maré cheia lance à praia as
estrelas-do-mar que enfeitarão o firmamento de
nossas mãos e as pautas de todas as melodias.
Com elas desafiaremos os esforços dos mares e das marés. Com elas em nossas mãos saberemos ler as partituras do vento e iluminaremos os trajectos do corpo, nadando entre vagas e ilusões.
Com elas desafiaremos os esforços dos mares e das marés. Com elas em nossas mãos saberemos ler as partituras do vento e iluminaremos os trajectos do corpo, nadando entre vagas e ilusões.
Depois de cumprido o ritual de tal viver,
as estrelas-do-mar serão, de novo, cadentes, para riscar a noite em direcção ao
mar alto, onde se apagarão para repetir o ciclo das marés e do corpo.
Augusto Mota, texto 63 de «A Geografia do Prazer», 1999
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