quarta-feira, 17 de abril de 2013

A Geografia do Prazer


A  LIBAÇÃO  DO  ACASO
 
Que afazeres são estes que roubam o tempo à navegação das viagens que empreendemos a olhar as estrelas na palma das mãos?  Como adivinhos em mercado de levante queremos ler o futuro nos sulcos abertos em nossas mãos pelo sofrimento e pelo passado, esperando que a consulta breve nos trace outro destino e traga satisfação nas viagens que fazemos à volta de nós mesmos e dos olhos claros que iluminam o sortilégio da noite.
 
Estrelas são todas as memórias boas que ficam a meio caminho do esquecimento e iluminam o prazer do tempo que, insistentemente, chama por nós, como se o dia estivesse já a desfazer os traços fundos que percorrem as mãos e o nosso fado. A ele votamos cada viagem e o deleite de apagar as estrelas entre o silêncio e a cor dos olhos que, agora, apenas reflectem a Via Láctea, onde moram promessas e desejos.
 
À ciência dos astros entregamos a solidão que vive entre viagens e desencontros. Mas enquanto a sorte bafejar as mãos frias do Inverno, o nosso contentamento será iguaria saboreada à mesa de um acaso e que libamos em sua e em nossa própria honra!  
 
Augusto Mota, texto 28 de «A Geografia do Prazer», 1998
 
- Exaltação do corpo em viagem pelos continentes da memória, 
 

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