A LIBAÇÃO DO ACASO
Que afazeres são estes que roubam o tempo
à navegação das viagens que empreendemos a olhar as estrelas na palma das
mãos? Como adivinhos em mercado de
levante queremos ler o futuro nos sulcos abertos em nossas mãos pelo sofrimento
e pelo passado, esperando que a consulta breve nos trace outro destino e traga
satisfação nas viagens que fazemos à volta de nós mesmos e dos olhos claros que
iluminam o sortilégio da noite.
Estrelas são todas as memórias boas que
ficam a meio caminho do esquecimento e iluminam o prazer do tempo que,
insistentemente, chama por nós, como se o dia estivesse já a desfazer os traços
fundos que percorrem as mãos e o nosso fado. A ele votamos cada viagem e o
deleite de apagar as estrelas entre o silêncio e a cor dos olhos que, agora,
apenas reflectem a Via Láctea, onde moram promessas e desejos.
À ciência dos astros entregamos a solidão
que vive entre viagens e desencontros. Mas enquanto a sorte bafejar as mãos
frias do Inverno, o nosso contentamento será iguaria saboreada à mesa de um
acaso e que libamos em sua e em nossa própria honra!
Augusto Mota, texto 28 de «A Geografia do Prazer», 1998
- Exaltação do corpo em viagem pelos continentes da memória,
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