O CONTRAPONTO DA TRISTEZA
É triste a
tristeza que ameaça
as mãos e
invade o corpo todo como se a cidade estivesse sitiada, ou fosse o frio seco de uma
manhã de Inverno que arrefecesse a alma e fizesse tremer o mais íntimo de nós.
Parecendo habitar os países do norte, o sol já não
abrilhanta as melhores horas do dia e a magia da noite ilude-se com palavras
que não conseguem disfarçar o desassossego de algumas emoções. É no corpo que
mais se sente o peso da angústia que passou a habitar as horas do trabalho e do
sono. Assim, dormir, é antecipar os sonhos maus que gostaríamos de relegar para
outras paragens, já que o dia e a noite são uma repetição da mesma tristeza e
as mãos já não conseguem ser o que eram, quando certas estrelas desabrochavam
em suas palmas e a boca percorria o nome das ruas no roteiro da cidade e da
saudade.
A saudade é a traição do tempo que habita o espaço do
nosso querer. Por isso adiamos sempre as horas que não coincidem nesse espaço
das mãos e dos olhos que sofrem, deste modo, o vazio de tudo e já nem conseguem
viver dos prazeres que a memória guarda para nós, com secretas intenções.
Melhores dias e novos
desígnios serão, amanhã, o contraponto ajustado a este despovoado existir.
Augusto Mota, texto 30 de «A geografia do Prazer», 1998
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