sábado, 20 de abril de 2013

A Geografia do Prazer

 
O  CONTRAPONTO  DA  TRISTEZA

É triste  a tristeza  que  ameaça  as  mãos  e  invade  o corpo todo como se a cidade estivesse sitiada, ou fosse o frio seco de uma manhã de Inverno que arrefecesse a alma e fizesse tremer o mais íntimo de nós.
 
Parecendo habitar os países do norte, o sol já não abrilhanta as melhores horas do dia e a magia da noite ilude-se com palavras que não conseguem disfarçar o desassossego de algumas emoções. É no corpo que mais se sente o peso da angústia que passou a habitar as horas do trabalho e do sono. Assim, dormir, é antecipar os sonhos maus que gostaríamos de relegar para outras paragens, já que o dia e a noite são uma repetição da mesma tristeza e as mãos já não conseguem ser o que eram, quando certas estrelas desabrochavam em suas palmas e a boca percorria o nome das ruas no roteiro da cidade e da saudade.
 
A saudade é a traição do tempo que habita o espaço do nosso querer. Por isso adiamos sempre as horas que não coincidem nesse espaço das mãos e dos olhos que sofrem, deste modo, o vazio de tudo e já nem conseguem viver dos prazeres que a memória guarda para nós, com secretas intenções.
 
Melhores dias e novos desígnios serão, amanhã, o contraponto ajustado a este despovoado existir.    
 
Augusto Mota, texto 30 de «A geografia do Prazer», 1998      

Sem comentários:

Enviar um comentário