O SEGREDO DO DESERTO
Hoje as palavras estão quase esgotadas
quando procuramos outros sentidos para as mesmas emoções. As mãos, sendo o que
são, serão para nós viagem, interiorização, construção, desconstrução.
Construção e desconstrução de tudo o que habita em nós e que buscamos na
memória recôndita das coisas que se atravessam à frente do tempo que passamos a
viajar pelas estradas da madrugada, a caminho dos pontos cardeais.
Hoje é o norte que chama por nós. A
velocidade das palavras ultrapassa, por vezes, o limite do sentido que damos às
coisas e só novos significados serão o registo particular das nossas forças e
fraquezas. Buscamos, então, entre o calor dos gestos percorridos em silêncio a
satisfação de tal sinonímia:
o
segredo do deserto é o perfume da rosa selvagem em secreta mistura com o aroma
refrescante dos oásis, que são já um bálsamo para as longas viagens e para as
mãos que constroem vertigens e conduzem velocidades pelas vias duplas das
palavras e das emoções. as
ultrapassagens são cuidadosas para nunca se chegar antes de participar no
festim das melodias que abreviam o percurso e satisfazem a paisagem que se
desdobra até à portagem da cidade onde habita o deserto do nosso corpo.
aí se compram e vendem os aromas do outono que as caravanas trazem de
todos os oásis do mundo. aí se
experimentam ilusões e
satisfações no mercado das nossas vontades.
queremos, é certo, prolongar o sabor de tal
jornada e, por isso, como um beduíno avisado oferecemos aos
gestos futuros a fragrância que, repentinamente, invadiu os pulsos e as
mãos. por tudo isto somos
nómadas em busca de um oásis perpétuo, sem comércio de segredos, mesmo que seja
de essências tão naturais como o desejo que viaja pelas promessas e pelos
pomares onde colhemos romãs e sensações.
Tudo se resume, afinal, ao segredo que o
deserto de algumas palavras esconde por debaixo das sílabas que soletramos com
o sorriso dos olhos e o júbilo dos gestos.
Assim, as viagens
desaguam sempre na foz de um entendimento correcto das imagens que o norte e o
sol poente trazem até nós, como se fôssemos aves marinhas pousadas nos rochedos
à espera do descanso e da noite.
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