segunda-feira, 15 de abril de 2013

A Geografia do Prazer


O  DISFARCE  DA  SAUDADE
 
Enfunada pelo vento do Outono desliza uma vela branca a caminho dos mares do sul. Lá moram os momentos felizes de toda a nossa memória de hoje e de ontem. Para eles navego a todo o pano, esperando repetir aventuras na ilha solitária da descoberta renovada. Aí residirei enquanto o vento estiver de feição para outras viagens, mas à vista da costa. Viverei da colheita de amoras e frutos tropicais. Experimentarei novos doces com receitas caseiras. Beberei dos licores que o acaso me sugerir. Descansarei todo o cansaço entre os palmares e as dunas. Do mar obterei meu líquido alimento e refrigério para a sede do corpo.
 
A quem dedicarei tanto esforço para viajar sozinho nestas aventuras meridionais? Talvez à saudade que disfarça ausências e olhares por entre tanta vegetação luxuriante!
 
As mãos saberão abrir novas sendas por entre lianas e sombras da floresta tropical, até que o caminho de regresso fique assegurado na carta topográfica que guardaremos em memória das nossas emoções quotidianas. 
    
Augusto Mota, texto 25 de «A Geografia do Prazer», 1998
 

Sem comentários:

Enviar um comentário