O DISFARCE DA SAUDADE
Enfunada pelo vento do Outono desliza uma
vela branca a caminho dos mares do sul. Lá moram os momentos felizes de toda a
nossa memória de hoje e de ontem. Para eles navego a todo o pano, esperando
repetir aventuras na ilha solitária da descoberta renovada. Aí residirei
enquanto o vento estiver de feição para outras viagens, mas à vista da costa.
Viverei da colheita de amoras e frutos tropicais. Experimentarei novos doces
com receitas caseiras. Beberei dos licores que o acaso me sugerir. Descansarei
todo o cansaço entre os palmares e as dunas. Do mar obterei meu líquido
alimento e refrigério para a sede do corpo.
A quem dedicarei tanto esforço para viajar
sozinho nestas aventuras meridionais? Talvez à saudade que disfarça ausências e
olhares por entre tanta vegetação luxuriante!
As mãos saberão abrir novas sendas por
entre lianas e sombras da floresta tropical, até que o caminho de regresso
fique assegurado na carta topográfica que guardaremos em memória das nossas
emoções quotidianas.
Augusto Mota, texto 25 de «A Geografia do Prazer», 1998
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