sábado, 20 de abril de 2013

A Geografia do Prazer


A  METÁFORA  DA  PONTE

O cansaço adivinha-se nos olhos e no suor das mãos que escrevem saudades em nosso rosto. Longe vão as manhãs das viagens de comboio ao longo da névoa dourada que ora se atravessava nos caminhos do vale, ora se diluía  num horizonte pródigo em sonhos e certezas.
 
Para solene remissão de tanto labor a encher os dias e a preocupar as noites, sacrificámos aos deuses o perfume subtil de uma magnólia em flor para, com suas pétalas carnosas, incendiar de novo os olhos e os gestos que parecem morar noutra cidade, para lá de todos os horizontes onde não  habitam nem sonhos, nem certezas.
 
Amanhã, por certo, viajaremos para lá dos limites da tristeza e faremos da ponte sobre o rio a metáfora que favorecerá a cura pelas palavras que não chegaremos a pronunciar.
 
O silêncio será o remédio mais expressivo para as dores que afligem os gestos da alma. 
 
Augusto Mota, texto 31 de «A Geografia do Prazer», 1998
 
 
- Exaltação do corpo em viagem pelos continentes da memória.
 

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