A METÁFORA DA PONTE
O cansaço adivinha-se nos olhos e no suor
das mãos que escrevem saudades em nosso rosto. Longe vão as manhãs das viagens
de comboio ao longo da névoa dourada que ora se atravessava nos caminhos do
vale, ora se diluía num horizonte
pródigo em sonhos e certezas.
Para solene remissão de tanto labor a
encher os dias e a preocupar as noites, sacrificámos aos deuses o perfume
subtil de uma magnólia em flor para, com suas
pétalas carnosas, incendiar de novo os olhos e os gestos que parecem morar
noutra cidade, para lá de todos os horizontes onde não habitam nem sonhos, nem certezas.
Amanhã, por certo, viajaremos para lá dos
limites da tristeza e faremos da ponte sobre o rio a metáfora que favorecerá a
cura pelas palavras que não chegaremos a pronunciar.
O silêncio será o remédio mais expressivo
para as dores que afligem os gestos da alma.
Augusto Mota, texto 31 de «A Geografia do Prazer», 1998
- Exaltação do corpo em viagem pelos continentes da memória.
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