É de noite que se constrói o futuro,
quando os corpos se beijam e as cidades crescem segundo as regras do
desordenamento urbano e sem pontes para fugir ao vazio de nós.
O vazio uma vezes é das mãos, outras da
cabeça que coordena os gestos e assume as vitórias sobre o próprio corpo. Os
gestos, esses, se parecem impetuosos, são sempre a exteriorização de uma
energia que carregamos ao longo dos dias vividos atrás das máscaras que
emprestamos às emoções.
Assim, quando gozaremos o prazer da dádiva
e, milímetro a milímetro, correremos o corpo todo que nos habita?
Aqui o silêncio é a noite que paira sobre
a vigília de um caminhar contínuo em sonhos que se fazem e desfazem. O vazio é
esse mesmo espaço que habita entre a construção e a desconstrução dos sonhos e
de tudo. O vazio será, portanto, o olhar que não vê, a boca que não saboreia,
as mãos que não apartam.
Mais vale acordar de vez e negociar o
momento presente do que vermo-nos continuamente perseguidos pelos fantasmas que
habitam o terreno movediço do sono e dos sonhos e onde se afunda a esperança e
a voz que chega de longe através do silêncio da manhã.
A noite continuará a construir o futuro
das cidades, com novas regras e outras pontes sobre o vazio de nós.
Augusto Mota, texto 12 de «A Geografia do Prazer», 1998
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