domingo, 24 de fevereiro de 2013

A Geografia do Prazer

12  A DESCONSTRUÇÃO DOS SONHOS
 
É de noite que se constrói o futuro, quando os corpos se beijam e as cidades crescem segundo as regras do desordenamento urbano e sem pontes para fugir ao vazio de nós.
  
O vazio uma vezes é das mãos, outras da cabeça que coordena os gestos e assume as vitórias sobre o próprio corpo. Os gestos, esses, se parecem impetuosos, são sempre a exteriorização de uma energia que carregamos ao longo dos dias vividos atrás das máscaras que emprestamos às emoções.   
 
Assim, quando gozaremos o prazer da dádiva e, milímetro a milímetro, correremos o corpo todo que nos habita?
 
Aqui o silêncio é a noite que paira sobre a vigília de um caminhar contínuo em sonhos que se fazem e desfazem. O vazio é esse mesmo espaço que habita entre a construção e a desconstrução dos sonhos e de tudo. O vazio será, portanto, o olhar que não vê, a boca que não saboreia, as mãos que não apartam.
 
Mais vale acordar de vez e negociar o momento presente do que vermo-nos continuamente perseguidos pelos fantasmas que habitam o terreno movediço do sono e dos sonhos e onde se afunda a esperança e a voz que chega de longe através do silêncio da manhã.
 
A noite continuará a construir o futuro das cidades, com novas regras e outras pontes sobre o vazio de nós.
 
 
Augusto Mota, texto 12 de «A Geografia do Prazer», 1998
 
- Exaltação do corpo em viagem pelos continentes da memória.

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