domingo, 3 de fevereiro de 2013

AS MURALHAS DE JERICÓ

 
O peito aberto é a espada ávida dos novos cruzados. A conquista passa sempre pelo ritual dos dias e Jericó anuncia o cantar da madrugada. Os guerreiros despem a cota de malha e oferecem o corpo à sagração da luta e beijam a vida e a morte no ardor de cada segundo. Mas o silêncio da luta só perpetua o gesto das mãos que correm e percorrem o calor da eternidade. Se cada segundo é o pulsar da artéria, então, aí, jaz a eternidade, no pulsar da artéria, entre as mãos que conquistam o amanhã de todas as madrugadas e a boca que saboreia o acaso do futuro. É nesse momento preciso, em que tudo excita e consome a memória dos dias, que a vitória canta e rejubila entre as muralhas do desejo. Depois amanhece o presente como se fora o sabor de um horizonte proibido e tudo se esvai entre as mãos que acariciam o sol, ou o futuro.
 
 
Augusto Mota, texto 2 de «A Geografia do Prazer», 1998

1 comentário:

  1. Finalmente os textos de «A Geografia do Prazer» aparecem à luz do dia. Já era tempo ! Espero ver mais.

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