quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

EKPHRASIS

A propósito dos três textos abaixo publicados, todos baseados em obras plásticas, em cujo universo sentimos necessidade de voltar a entrar  pela emoção das palavras, ora através de uma escrita mais automática, como em «A Ponte» e «Génese», ora através de uma prosa mais elaborada e racional como em «Loro Sae», recomendamos a leitura do texto seguinte, que define tecnicamente este tipo de produção literária, onde também se podem enquadrar os «Textos transversais» e as  «Legendas íntimas», que, em breve, voltaremos a publicar.

Termo grego que significa "descrição" (no plural, ekphraseis), aparecendo em primeiro lugar na retórica de Diónisos de Halicarnasso (Retórica, 10.17). Tornou depois um exercício escolar para aprender a fazer descrições de pessoas ou lugares. O locus classicus na literatura épica é a descrição do escudo de Aquiles feita por Homero (Ilíada, 18, 483-608). Virgílio seguiu o mesmo modelo para a descrição do escudo de Eneias na Eneida (8, 626-731). Um outro tipo de ekphrasis concentra-se em descrições epigramáticas de pinturas e estátuas, como La galeria de Marino e muita poesia emblemática. O termo alemão Bildgedicht corresponde praticamente ao conceito de ekphrasis, neste sentido de descrição de uma obra de arte (pintura ou escultura). Os poetas românticos recorreram amiúde a este artíficio, tendo ficado célebre, por exemplo, a "Ode on a Grecian Urn", de Keats. Naturalmente, o recurso às descrições particulares está presente em muita poesia contemporânea, sobretudo a partir do momento em que a poesia se tornou cada vez mais próxima da prosa narrativa. Na literatura portuguesa, o livro Metamorfoses (1963), de Jorge de Sena introduz um tipo de poesia descritiva que tem como objecto de contemplação toda a obra de arte visual. Este tipo de descrição plástica, não limita o conceito de ekphrasis a uma simples e passiva exposição dos dados observados, mas conduz-nos a um exercício reconstrutivo do que foi examinado, querendo interferir subjectivamente nas qualidades do objecto. O poeta ecfrástico raramente se contenta com uma descrição objectiva do que observa, quando tem a possibilidade de comunicar livremente o seu próprio gosto. A Secreta Vida das Imagens (1991), de Al Berto, ou Depois de Ver (1995), de Pedro Tamen, podem ilustrar o lado dinâmico da ekphrasis.

 
Carlos Ceia, in «Dicionário de Termos Literários»

http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=961&Itemid=2
 

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