domingo, 17 de fevereiro de 2013

A Geografia do Prazer

10  A LITANIA DO AZUL

Em nosso peito abre-se a rosa azul do prazer que habilidoso jardineiro cultivou em suas experiências de vida e de morte. Assim  se libertam as sensações como pétalas caídas no chão que havemos de percorrer em sublime litania. Assim beijamos as pétalas azuis e sentimos um frémito avançar sobre o corpo todo e uma maré de recordações enrusbecer as mãos e os pés.
 
Caminhar, agora, é difícil. Voar seria a deslocação apetecida. E pairar sobre o jardim das rosas azuis a satisfação plena de nossos desejos.
 
Tanta energia consumida a tirar, primeiro, os espinhos!
 
Resta-nos, por hoje, um punhado de pétalas azuis que, sôfregos e sofredores, agarramos bem com ambas as mãos e lançamos ao vento pela janela aberta de nossa desilusão.
 
Que cada porção de azul se multiplique em fértil terreno e melhores emoções germinem apetecidas em nossas bocas! As mãos, assim, ficarão mais quentes e, agradecidas, colherão as primícias desse jardim para depois saborearmos o perfume azul da nova botânica.
 
Tal jardim será o constante renovar dos olhos e das mãos em apoteose!
 
Augusto Mota, texto 10 de «A Geografia do Prazer», 1998

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