sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

ENTRE AS COLINAS DA MEMÓRIA

 
A verde escrevo o sol que escorre pelas minhas mãos e tudo se dilui na saudade de infinito e nos desejos dos olhos claros da madrugada. Antes fosse um poema que perpetuasse os segundos que em mim ardem como bicos aguçados que sangram os lábios e a dor do futuro. Mas futuro é o presente que arde e sente, que fere e pressente o rosto que acaricia um horizonte de mãos entre as colinas da memória.
Se o futuro é cada segundo que hoje vivemos, que se eternize o júbilo da sagração e se festeje cada gesto como dádiva sequiosa que inunda o corpo e percorre, em êxtase, os caminhos da cidade sitiada.
Sobre as colinas de Jerusalém dormem as mãos e a boca dessa memória renascida das cruzadas, dessas lutas sem inimigo, desse esvair por dentro do passado sem futuro, ou do futuro sem presente. De qualquer modo sentem-se e pressentem-se as mãos que ardem entre as colinas da memória, agora rejuvenescida, e sentem-se e pressentem-se as lágrimas que escorrem entre os dedos do dia que amanhece. Serão contas, talvez, de um novo rosário de feitiços e encantamentos.
Um outro sufrágio das mãos ritualiza, agradecido, uma nova religião de gestos em oferenda. O oficiante está pronto para as trindades do amanhecer!
 
Augusto Mota, texto 1 de «A Geografia do Prazer», 1998
 
 
- Exaltação do corpo em viagem pelos continentes da memória.

2 comentários:

  1. Olá, Augusto:

    Só hoje vi o seu Blog. Parabéns!
    Serei visita assídua.
    Este texto é colossal! Quase me deixou sem fôlego.

    No dia daquele temporal medonho fiquei sem computador.
    Que grande apagão levou. Mas já tenho computador outra vez.

    Um grande abraço
    Júlia Ribeiro

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  2. Gosto, particularmente, deste texto pela sua força de simbolismo. E revivi as emoções que experimentei ao visitar as colinas e as muralhas de Jerusalém, sobretudo ao nascer do sol. Uma revelação que, de novo, revivi ao ler o seu texto !

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