domingo, 17 de fevereiro de 2013

A Geografia do Prazer

9  O CIO DO SOL

Enquanto lavro o corpo da manhã, o sol, em seu cio, cavalga um cão de fogo por entre nuvens afiladas e a construção das cidades adivinhadas. Bem perto, porém, há o rodopiar incessante do disco rubro que agora se estampa em nosso olhar. Vemo-lo para além das nuvens. Vemo-lo em cima e para além deste corpo que se adelgaça no esforço de transportar o astro a caminho de outras galáxias mais perto de nós.
 
Rítmica é a sensação do sexo em desespero perante o olhar artesanal, a firmeza da mão, o gravar da matéria.
 
Assim se constroem as nossas cidades interiores, que ora são corpo de mulher, ora vielas estreitas por onde vagueamos a tristeza e as mãos vazias de tudo.
 
As colinas ao longe agridem o espaço como justo contraponto a este paroxismo de dor e de prazer.
 
Deixemos as coisas acontecer ao ritmo do tempo que tomou conta do nosso acaso.
 
Augusto Mota, texto 9 de «A Geografia do Prazer», 1998
 
- Exaltação do corpo em viagem pelos continentes da memória.

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