domingo, 17 de fevereiro de 2013

A Geografia do Prazer

7  O CÍRCULO DO DESEJO

O destino é célere em seu espanto quando tudo se torna subitamente impossível. Cada curva é o assomar do desejo fértil e a razão irrompe pressurosa num dissipar da luz que invade os membros e nos arrasta para longe das emoções que já inundam a cabeça e os pés. Viandantes somos nesta peregrinação errante pelas veredas do desejo.
 
Desejar é uma outra maneira de saborear os olhos e com eles sorrir às mãos que guiam tal caminhar apressado na direcção do impossível. Desejar será, ainda, um outro modo sereno e meticuloso de medir as distâncias entre o ser e o existir. Existimos quando viajamos a caminho do que somos só para nós mesmos. Seremos quando o caminho percorrido nos dá a grata certeza de termos viajado, satisfeitos, para fora do nosso limitado círculo de acções e reacções.
 
Se um verbo pode acender a noite, as estrelas serão flores num universo de emoções e o jardim do desejo ficará perene em sua flamejante primavera.
 
A quem ofereceremos as rosas de tal estação? Ao mito ou à emoção? Para nós guardaremos os espinhos como consciência deste viajar sem remissão.
 
Augusto Mota, texto 7 de «A Geografia do Prazer», 1998
 
- Exaltação do corpo em viagem pelos continentes da memória.

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