A FLORAÇÃO DA VERDADE
Quando se
encontra uma verdade gosta-se de a usar como se fosse a maior descoberta do
século. Usamo-la ao jantar e ao almoço do dia seguinte e ficamos com a grata
sensação de donos perpétuos do universo. Estranho é, quando, tempos volvidos,
nos ocorre, por mera denúncia de nossa própria e vivida experiência, que o tal
encontro mais não foi do que uma repetição, de nós e por nós, de tudo aquilo
que outros ciosamente guardaram como igual descoberta.
Afinal,
conclui-se em desânimo que repetimos descobertas de verdades como a Primavera
se orgulha de florir as mesmas cores em seu cíclico e louvado trânsito.
Pena é que
o homem não se identifique mais, em seus
pergaminhos de ser e de existir, com a entrega total da floração
da terra. Seria mais lógico em seus apregoados princípios de razão. Seria mais
coerente na própria finalidade da descoberta e na definição do seu próprio
existir como descobridor.
Assim vemos
repetirem-se as verdades exaustas de serem descobertas. Assim vemos os
descobridores exaustos de se repetirem em busca de verdades já descobertas.
Quando se
encontra uma verdade gosta-se de a usar como se fosse a maior descoberta do
século.
Difícil
floração esta a da primavera do homem!
Augusto Mota, texto 1 de «O Artifício da Loucura», 1962 a 1964
- Discorrências sobre o nosso próprio limite.
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