quinta-feira, 7 de março de 2013

O Artifício da Loucura


A  FLORAÇÃO    DA   VERDADE
 
Quando se encontra uma verdade gosta-se de a usar como se fosse a maior descoberta do século. Usamo-la ao jantar e ao almoço do dia seguinte e ficamos com a grata sensação de donos perpétuos do universo. Estranho é, quando, tempos volvidos, nos ocorre, por mera denúncia de nossa própria e vivida experiência, que o tal encontro mais não foi do que uma repetição, de nós e por nós, de tudo aquilo que outros ciosamente guardaram como igual descoberta.
 
Afinal, conclui-se em desânimo que repetimos descobertas de verdades como a Primavera se orgulha de florir as mesmas cores em seu cíclico e louvado trânsito.
 
Pena é que o homem  não se identifique mais, em seus pergaminhos de ser e de existir, com a entrega total da floração da terra. Seria mais lógico em seus apregoados princípios de razão. Seria mais coerente na própria finalidade da descoberta e na definição do seu próprio existir como descobridor.
 
Assim vemos repetirem-se as verdades exaustas de serem descobertas. Assim vemos os descobridores exaustos de se repetirem em busca de verdades já descobertas.
 
Quando se encontra uma verdade gosta-se de a usar como se fosse a maior descoberta do século.
 
Difícil floração esta a da primavera do homem!  
 
Augusto Mota, texto 1 de «O Artifício da Loucura», 1962 a 1964 
 
- Discorrências sobre o nosso próprio limite.    

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