PERSPECTIVA DE UMA POSIÇÃO DIMENSIONISTA-ACTUANTE
Descobrir em cada objecto a sua verdadeira essência
é desdobrar cada partícula em ritmo de força e de vida. Força e vida serão para
nós sentimentos demasiado humanos para os fossilizarmos, inertes, em sua
contextura superficial, porquanto todo o movimento que possa descobrir-se na
vida das coisas e dos próprios seres é sempre uma tradução rítmica da
atomização de suas moléculas.
Amamos, então, mais o interior das coisas (mas sempre em compromisso com o
exterior) para as dominarmos. O domínio
da matéria terá que ser a característica suprema de toda a criação. Aí reside a
finalidade do acto. Ser traído pela matéria, julgando que se alcançou a forma,
será abortar a intenção lógica do pressuposto artístico. Esta condição exigível
não é invenção de uma época. Foi sempre jugo aceite para uma
derrota-em-êxito-fácil. Ela, a condição exigível (ou a derrota que existe na própria definição
de exigência), tem sido religião de todos os que, embora conscientes do
fracasso imediato, não renegam os princípios de uma exigente preocupação social
e lutam pela manutenção de uma escala de valores a que, por direito próprio, se
mantêm conscientemente fiéis. Nesta religião reside quase toda a possibilidade
de entendimento de uma única forma e força de expressão, em que um conteúdo
humano e psicológico latente no cerne da nossa constituição se imiscui, por
simpatia e não por vaidade, na descoberta, melhor no desvendar do compromisso
interior-exterior das coisas.
É, pois, neste dissecar tantas vezes sangrento que
radica o amor próprio e a característica suprema de toda a criação como
finalidade, como exigência e, acima de tudo, como vontade.
Augusto Mota, texto 9 de «O Artifício da Loucura», 1962 a 1964
- Discorrências sobre o nosso próprio limite.
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