O SUFRÁGIO DAS MÃOS
Contra nós ou por nós erguem-se sempre mãos em
intenção. Por vezes ficam-se, apenas, em gesto de espírito, em puro linguajar
simbólico. Quando, porém, a esfera da atitude das mãos ultrapassa (para sua
total definição) a
mera intencionalidade do símbolo, assistimos a uma oposição de forças físicas
já distante da sublimação em palavras.
Há acto de carinho no desprezo. Há, sobretudo, mão
que procura para reter e mão que encontra para afastar. Do prazer da busca fica
a saudade deter encontrado, procurando. Da desilusão da repulsa fica o ódio
deter afastado, encontrando.
Acções de total fisiologia. Reacções de pura
psicologia.
Contra nós, ou por nós, há sempre mãos sufragando em
intenção. Nova missa na actual mística da civilização em forma de cidades.
Augusto Mota, texto 2 de «O Artifício da Loucura», 1962 a 1964
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