DA ARTE COMO CONSEQUÊNCIA
Toda a arte é sempre uma consequência. Consequência da
família, da cidade, do país, do mundo. Consequência ainda do segundo, da hora,
do ano.
Em todos os meridianos o homem deve tender para
a sua perfeição,
perfeição que se traduzirá em utilidade. Esta utilidade, porém, deve
manifestar-se mais na nossa actividade social diária do que nas obras que
realizamos por imperativo estético. Estas não são imediatamente úteis à
comunidade; são, sim, imediatamente úteis ao indivíduo que as produz, porque ajudam a libertá-lo,
consciencializando-o para realizações mais capazes de o integrarem no substrato
nacional de que não nos podemos alhear.
É preciso, sobretudo, dar unidade às nossas acções
todas e conceber a execução da arte como factor de construção interna,
construção que é sempre evolução e progresso para nós e que se reverte, por
força moral, em utilidade para os outros, para a cidade, para o país, já que a
vida comunitária nos impõe sempre uma qualquer forma de participação, de
actividade diária onde podemos espalhar as sementes de nossas conclusões. A
vida, então, mais do que a crítica de arte, nos dirá se fomos ou não sábios em
nossas descobertas. Só assim se poderá progredir, pela entrega de todas as
nossas pulsações àquilo que dizemos amar. Mas este amar obriga-nos a destruir para reconstruir segundo as nossas
paixões, ou impulsos da família, da cidade, do país, do mundo.
Tudo isto, porém, tudo isto submetido à lei do
tempo, imprime à vida um ritmo novo e ao espírito uma sageza que não pode contemporizar
com atrofias de qualquer espécie.
Augusto Mota, texto 8 de «O Artifício da Loucura», 1962 a 196
- Discorrências sobre o nosso próprio limite.
- Discorrências sobre o nosso próprio limite.
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